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qual desses bobos me tornei?!

colagem4Fotos-4d08c233b11f8O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

(…)

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

[Clarice Lispector]

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esta semana completo mais um dos meus tão falados 20 e poucos. felicidades ou não pra mim, né?! abraço!*

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reflexo. refluxo.

“Have you forgotten your babies?
You really must remember not to leave them at the neighbors…”

- Eliza Doolittle, em ‘A Smokey Room’ -

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aqui pensando, as pessoas sempre se escolhem ou por química ou simplesmente circunstância. as razões para tanto parecem óbvias. e no meio disso tudo sempre tem aquelas que, com o tempo, precisam de alguém que fale por elas, que se expresse por elas, que chore por elas, que sorria por elas, etc. e tal como se tivessem desaprendido o linguajar do outro, como acaso fossem os sentimenos essa dança misógina de alguns avanços e muitos vãos recuos. movimento reflexo. refluxo. o outro que há em mim é você você e você, justificariam exaltando Leminski. mas, a vida é tão ruim assim pra deixar-se impressionar demais?! quando só se inspira em alguém também se está dissimulando algo de si: escondendo-se. mentir e ainda sentir-se surpreso?! mas só estou pensando... só pensando.

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o sempre avesso do outro.

o que me despertou foi o zurro de um jumento na praça do mercado. o jumento mexeu comigo e, não sei por que estranho motivo simpatizei com ele; e repentinamente tudo se tornou claro na minha cabeça.

- dostoiévski, em ‘O Idiota’ -

de dia, na companhia dos meus amigos, na sala de aula, na minha relação com minha família, nas festas, sou amável, dado demais, brincalhão, de uma gargalhada ímpar, sem preocupações e sempre tenho uma palavra amiga e acalentadora.

tudo a ponto de fazer com que as pessoas, de um modo geral, não me vejam como um rapaz perdido em cismas quando sozinho, tímido, inseguro, às avessas com a madrugada de muitos pensamentos, insone e pertubada.

e aí, frequentemente, tenho me perguntado que papel têm os rótulos nas nossas vidas. dizem que sou pra frente, sem vergonha na cara, esse ser todo desinibido. acredito?! não sei até que ponto.

ser absolutamente isso ou aquilo traz perigos muitos como, por exemplo, o fato de nos arraigarmos a urgência de corresponder a certos padrões de comportamentos que não desejamos necessariamente, mas que por eles optamos e nos orientamos justamente porque esperam que assim ajamos. e, talvez, por isso seja eu ou você um louco, ora um santo e o sempre avesso do outro, vagando periclitantemente entre a simpatia e a estranheza, a graça e a desgraça perante o olhar alheio.

no entanto, desempenhar papéis requer não só cuidado, mas coragem acima de tudo. é preciso desafiar as zonas de conforto. a ideia de perfeição que alimentam por nós mesmos e sobre nós mesmos é tão às vezes demasiado ruim que destruí-la, por ação ou omissão, seria concomitantemente não só nos atingir mas ao outro em escala não tão boa na mesma proporção. digitalizar0001

pois, uma vez movidos pela paixão, completamente cegos, estaremos propensos a justificar essa esperança justamente onde não há. e o resultado: a desilusão de descobrirmos nada do que achamos que erámos tão somente por um ataque de vaidade desesperada.

em um mundo que constantemente muda debaixo da gente, disseram-me certa feita que a única coisa da qual sabemos com certeza é o que expressa nossos sentimentos. razão porque devemos dar vazão ao amor que temos, ao medo do qual nos escondemos, à dor de que nos afastamos. as recompensas seriam paz na cabeça no coração.

mas, que paz é essa?! e se eu disser que não sou tão pleno quanto pareço?! o desejo cala, raramente ignoro a verdade, mas, de vez em quando, bate aquela vontade medonha de querer ser criança novamente. não aguento mais!

abraço!*