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quantos mal me quer existem em única flor?!

pensar é uma desgraça na minha vida. entretanto, fico pensando o que seria de mim se eu não pensasse o tanto quanto penso. será que seria mais feliz, hein?! será que as pessoas pensam tanto quanto eu?! ou são tão corajosas que se atiram ante o desconhecido sem problematizarem os prós e as contras de suas escolhas?! ou o mundo é tão louco como eu, com a diferença que disfarça com certa destreza e despreocupação esse pensar, porque, vendo noutra pespectiva, pensar demais pode nos fazer parecer tão idiotas a ponto de ninguém mensurar, nem nós mesmos, a carga positiva ou negativa desse nosso imaginar?!
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pensar demasiado, além de me parecer essa desgraça toda, é de um caos tão grande que a força do momento é incapaz de me fazer vislumbrar o sentido, de imediato, da porrada de pensamentos desorganizados que vão se perfazendo a cada minutinho que são tanto mais infinitos quanto parecem ser os acasos, descasos e coincidências do meu dia-a-dia.
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daí porque sou louco varrido, apaixonado por livros, filmes, peças teatrais, músicas que tenham um eu centrado, organizado em suas ideias. minto. é mais inveja de minha parte: tenho inveja dos que sabem organizar suas ideias da mesma maneira como é narrada nos livros, filmes, peças teatrais, músicas que tenham um eu centrado. não é amor. não esse sentimento tão belo quanto dizem sê-lo. ou o amor não é isso ou eu não sei amar. ou o prazer é bem diferente da felicidade.
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não bastasse isso, com os meus pensamentos, vêm as ideias em relação ao outro, essa loucura que é nossa passagem por aqui, enfim, de estar sempre se jogando para o desconhecido e ainda assim continuar tentando e tentando e tentando ainda que do lado oposto não exista ninguém que não seja mera projeção de nós mesmos, seres falhos em potencial, pois estaremos sempre atravessados por esse externo.
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e sobre o amor, a beleza dói muito. dói porque é perigosa, é violenta, meus olhos ardem e se enchem de lágrimas. aí pergunto: é normal ser feliz e chorar mais que rir?! viver nessa corda bamba entre o desespero e o tédio?! nessa linha tênue entre a revolta e a humilhação?! é normal chorar sangue ou tinta vermelha?! é normal?!

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tenho medo desse tipo de pensamentos, sabe?! às vezes acho que estou ficando doido, uma vez não ver o mundo com os olhares pacientes e calmos de muita gente por aí. e, mesmo crendo eu caminhar de alguma forma, a sensação é de estar parado ou de remar em círculos motivado pelas expectativas alheias, como se minha vida tivesse se resumido a só questionar ou, infelizmente, seguir uma série de regras que não são nem minhas posto o pensar também ser uma regra, um verbo chato que me aflige pra não passar a impressão de ignorante ante gente que nem dou valor ou gosto devidamente, já que vaidade também é norma das mais anacrônicas.
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e, assim, uma aflição maior: quem sabe, por pensar demais, não me estou, crendo fazer um bem, alimentando um mal maior?! e se esses pensamentos não valerem de nada e, na pior das hipóteses, eu acabar num manicômio, abandonado, sozinho, como é o destino de muitos que se prestam a esse ato de coragem ou falta dela, sei lá?!
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afinal, do que preciso me libertar?! e nesse pensar desgraçado, desorganizado, dolorido, humilhante, entediante, verbo chato, o cerne da questão nem sempre é quem eu sou ou o que tenho me tornado ao longo desses vinte e poucos anos. responder isso me parece mais fácil do que aparenta complicado. a questão é mais dramática: que escolhas tenho feito?! pensando, pergunto-me indiretamente qual o preço delas e cada escolha tem lá seu valor, como, por vezes, achar, por conta própria, que o nada é tão nada quanto o tudo é nada ou compartilhar da opinião de um amigo distante que diz 'ser sangra'.
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e, assim como ele, tenho sangrado, buscado respostas para muitos de meus questionamentos interiores, velozes, vis e vãos até. se isso é bom, agora, agora mesmo, nem sei. esses sentimentos que a mente da gente alimenta de não estar por dentro das coisas, de não acompanhar o ritmo ou dimensão que tomam, eles nunca vão embora, não sorrateiramente como a gente enseja. pelo menos, é essa a impressão que tenho nesse exato instante.
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ser adulto, talvez, seja saber quem você é e ter a coragem de ser essa pessoa sem se preocupar. mas, sou adulto?! escutei dia desses, "se há loucura suficiente para rir ou chorar, talvez exista lucidez demais em muitos casos..." - vai saber, né?!
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abraço!
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que sonhos você tem?! aí se decide a vida.

este texto vai ser tão redação de escola que me lembrei de uma brincadeirinha embaraçosa, last week, do meu irmão mais novo em relação a um primo na puberdade:

‘vitor vai chegar na escola e vai fazer uma redação dizendo que as férias foram ótimas e que uma menina pegou na mão dele’.

2011 foi deixando de ser só começo de ano para abrir-se a mim em reencontros com familiares, amigos, ida às prévias de carnaval em Olinda, ao submundo do sexo e do tecno-brega na Av. Boa Vista (centro do Recife), depois Mayer Hawthorne, Janelle Monáe e Amy Winehouse no Summer Soul Festival e show de Bethânia semanas depois em João Pessoa, etc e tal,  e no melhor das férias, Praia Azul, litoral sul paraibano.

e, assim, eu como todo amante de sol, brisa fresca e mar, novamente fiz como quem parece rumar às praias de veraneio, sem muita movimentação, quase verão1desertas, perseguindo os iguais anseios, dentre eles deixar as pressões da cidade na própria cidade e seguir em busca de tranquilidade. ou ao menos, estar mais próximo do que se é  ou imagina ser na verdade. porque, na cidade, é um tanto difícil perceber um outro lado que não o ruim, senão o pior, das pessoas. ora, o pior de nós mesmos, vai ver…

e com o mar rente a mim, das muitas coisas que se faz em cidade praiana, a melhor mesmo é parar, sentar na areia, botar uma boa música pra tocar (e Mayer Hawthorne foi a trilha sonora do verão!) e fixar o olhar no nada e, deste, ir despropositadamente preparando o terreno para que possa surgir tudo.

e muitas vezes apareceram o menino que se melava todo de areia e corria pra abraçar o mar; o pai que se fazia de bobo ao jogar futebol com os filhos, deixando-os ganhar; a avó que dizia aos berros para um pequenino Henrique, juntamente ao seu irmão gêmeo, tomarem cuidado e não molharem a senhora sentada na areia; os guarda-sóis coloridos que voavam ao tilintar feroz dos ventos; as pipas que riscavam sonhos de Ícaro no céu; o meu primo de 6 anos que falou docemente ser bonito os pássaros rasgarem as nuves e querer aquilo com tamanha vontade a ponto de me fazer chorar ali mesmo sem querer. e um sentido bucólico, selvagemente-melancólico, porém alegre ia se fazendo tão longe perseguia meu olhar maroto. olhos nunca antes de poeta, mas que o mar os fazia poetas.

e junto toda uma vontade de nunca mais sair dali. não por necessariamente medo, sabe?! 34tampouco artimanha para, então, sabotar o passar de 2011 que me aguarda nervoso. os sonhos de todos nós ali no sudeste da Paraíba eram os mesmos, mas a felicidade e a paz eram só minhas, sorrateira, arrebatadora e clandestinamente àquelas horas tão à esmo que passava sentado na areia ou caminhando sem rumo certo ou vontade de chegar, assim como, acredito, ter sido ímpar a felicidade de cada um para si próprio ali. todos, enfim, privilegiados, de alguma maneira, por podido sentir isso cada qual na sua.

chorei, pois, de emoção a minha felicidade. e fui chorando cada vez mais desse vontade, muitas vezes a olhar também contente a felicidade sincera de muitos que por ali passavam, bordando areias, desfilando sonhos de reconciliarem-se consigo mesmos, com luz de candeia pra nunca se apagar, não fosse, raros momentos nesses últimos dias, a ressaca das ondas dissimulada e cruel a quebrar na areia ou nas pedras, quem sabe?, arrombando nossos desejos mais vãos até e, como num jato de água fria, trazendo a realidade por puro despeito de não-poesia.

e, claro, minhas férias, assim como as de meu primo de 13 anos Vitor, foram/estão sendo realmente ótimas. não foram só de chô-rô-rô, não. tem até gente insistindo na mesma piada de que preto não fica bronzeado e eu rindo do mesmo jeito (até eu tô me achando pretão, gente. e lindão também. desculpaê!).

entretanto, piadas de lado, não sei qual menina agarrou a mão de Vitor, mas sei que uma outra chamada coragem e toda pintada de azul, tão azul esperança segurou a minha. e é dessa forma que creio estar um tantinho mais pronto para abrir portas, ainda que seja necessário exaurir-me em trabalhar aquela parte de mim, que, lá no fundo, bem fundão, ainda teima em dizer que tenho medo, não poderei, não conseguirei e de que portas se fecharão diante de meu nariz.

e como a vida é de portas que ora se abrem, ora se fecham, sei que o medo é dos mais bobos. das tantas escolhas, uma delas é poder deitar a cabeça no travesseiro todos os dias e saber que amanhã, se não consegui hoje, poderei acordar e tentar de novo. porque, bixo, se cheguei até aqui, não foi necessariamente por ter acertado todas as vezes, mas por ter burlado as placas de alerta, aberto as portas erradas ou, num ato de loucura, ter pulado as janelas, quiçá. cheguei, acima de tudo, por ter acreditado que janeiros estão aí sempre pra isso, por ser exatamente início e ao mesmo tempo já recomeçar.

no mais, acabei de abraçar fevereiro com todos os braços de um polvo e uma fome inigualável de tubarão.

abraço!