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o erro foi meu, absolutamente meu!

todo mundo tem algo que preze ou guarde com carinho, desde um um cd riscado do los hermanos, tão riscado que nem eu escuto mais, pq quem não gosta de fato do estrago? agora tenho os cinco anos.

os cinco anos que prometi nunca mais escutar los hermanos. os cinco anos que cheguei aqui e me perdi numa cidade tão pequena. os cinco anos de dilemas e de dias tão paradoxalmente felizes e difícieis. os cinco anos de uma vontade insana de abandonar tudo, e querer esse tudo em cinco anos pra chegar neste local e tempo em que me vejo e encontro agora. os cinco anos tentando deitar, dormir e acordar bem no dia seguinte. os cinco anos dos sonhos reduzidos aos reiterados hábitos da vida doméstica. os cinco anos da minha luta contra o Direito todas as tarde de segunda a sexta. os cinco anos de noites a fio, estudando muitos compêndios normativos que se sucedem, sobrepõem-se, contrapõem-se. os cinco anos de minhas idas/vindas para/da casa de meus pais. os cinco anos com gentes, valores, pensamentos, linguagens e cultura diferentes. os cinco anos das melhores gentes que encontrei em toda minha vida. os cinco anos das piores gentes também. os cinco anos dos melhores amigos. os cinco anos das piores e igualmente das melhores lembranças. os cinco anos das tentativas frustradas e frustrantes. os cinco anos dos desafetos, dos rancores e das esperanças perdidas. os cinco anos da farsa, da força e da incoerência. os cinco anos dos meio-dias mais quentes e dos 'por-dos-sóis' mais bonitos que já vi. os cinco anos percebendo-se quase sertanejo ao ver chuva. os cinco anos chorando de felicidade, vibrando feito louco ao ver chuva. os cinco anos de poucas chuvas. os cinco anos das calorosas, das lentas e das terapêuticas madrugadas. os cinco anos das farras, muitas cervejas e da pouca vergonha na cara. os cinco anos dos amores desmedidos, efêmeros e incompreendidos. os cinco anos de muito sexo e orgia. os cinco anos da porra-louquice. os cinco anos dos desejos contidos. os cinco anos tentando acertar. os cinco anos desejando errar de novo, pq em cinco anos acertar é insuportável. os cinco anos de uma convivência e conivência quase impossíveis. os cinco anos de um passado comum. mas os exatos cinco anos que me trouxeram de volta ao lugar de origem: “o que diabos estou fazendo aqui?!” “para onde diabos vou agora?!”, pq pouco restou do tempo, além de somas e trocos.

e que venham mais cinco, para que eu possa riscar o que de ruim houve nestes cinco da memória com aquela insossa sensação de alívio ou não… pq devo ter esquecido parte de minha alma em algum lugar, talvez, contente da minha anonimidade.