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#nowplaying Set Fire To The Rain - Adele

 

e a chuva não tem dado uma trégua sequer. às vezes, o céu de um zeus furioso sabe-se nunca por que motivo (parece) vai desabar sem dó e piedade. é ira, é prenúncio de dilúvio. outras é só garoa, um chuvisco fraco, chegando macio, devagarinho como o que cai agora…

começa sempre com uma pressão danada aqui embaixo que faz forçosamente gotas malemolentes subirem às extremidades superiors vagarosamente. e numa cadência só, os pingos quase invisíveis vão juntando-se a poeiras de vastos horizontes com a ajuda do sopro dos ventos.

ficam mais fortes, pesados, ceifam as nuvens, caem por terra e, em harmonia e felicidade, balançam as árvores, matam a fome dos jardins, rosas que desabrocham em quimera, charme e beleza. fluxo este que se refaz a fecundar ou amadurecer a vida.

e o frio da rua invade nossas casas, uma preguiça se faz presente e o cobertor parece a melhor companhia quando o café não faz questão de invadir nossas narinas e anunciar uma vontade imensa e desmedida de adiar o tempo.

momento natural e mágico de felicidade tal que pode ser arrebatado pelo ligeiro descontentamento de percebermos que os sonhos cândidos dos primeiros anos da tenra e leda existência ao desenhar um sol no chão molhado nada adiantaram senão para, sorrateiramente, fazerem  rirmos hoje saudosos do fato de que, quiçá, tivéssemos sido tolos o suficiente de crer que isso um dia poderia acontecer.

homens e mulheres abrem seus guarda-roupas, libertam os casacos dos cheiros impregnados dos matadores de baratas, vestem suas capas e põem abertos os guarda-chuvas e sombrinhas ou desagasalhados, infelizemente, lamentam a miséria junto aos ratos saltitantes nas ruas…

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#nowplaying Beth / Rest – Bon Iver

não basta viver para o bem porque independentemente do que se faça toda e qualquer a ação sempre dependerá do outro polo da relação. o círculo é vicioso, previsível até demais. é assim dentro de casa, é assim na vizinhança, na escola, no trabalho, é desse jeito em qualquer dimensão da vida. a gente voa na paciência, lamentando intimamente – baixinho – essas migalhas de contentamento, morfo e poeira –, que a vida nos dá quotidianamente como consolação em risos de vergonha para depois redescobrir que o tempo é mesmice, é só mais um querer empacado que impulsiona, bem ou mal, a incorrer nos erros de sempre: tudo desarranjando, tudo assustando, tudo acovardando, desbotando, descolorindo, começando a perder o sentido, precisando ser avivado com nova seiva, para que a vida continue a pulsar visceralmente. e infeliz engano: a esperança nem salva, dá asas e aprisiona, prega-nos uma peça em meio a tanta sujeira incrustrada, perante o entregar-se à sorte como comparsa lançada ao vento, em terra e céu.. ♪♪♪ this is us. ♪♪…