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“por isso gosto tanto de me contar. por isso me dispo. por isso me grito.”

 

 

é um acordar como quem acorda num espasmo, meio estranho comigo mesmo. é o amargo na boca. depois o café quente. depois a azia. de novo o descontentamento com a vida, de novo uma vontade de não estar nem aqui nem ali. de não chegar a lugar algum, é a carência. a saudade. é a mágoa e o rancor (…) uma espécie de avião em queda, avidez de uma esperança insatisfeita. o vazio que grita e ecoa.  a aprovação que não faz sentido. ser doido e santo, e ser doido assim mesmo. desconhecer do tempo e o relógio não fazer milagres, porque (…) nossa festa era tão certa, pés no chão (…) mas eu não pude dizer não, intuíam desde o começo, porque sou pequeno demais para tudo aqui dentro.

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“just get ur ass back home…”

 

tudo bem, fantasio demais. assim desde criança, nos meus dizeres, no meu imaginar, no meu modo de viver, esperar, ser.

sempre pensando em vão que estarão lá pra me escutar quando eu quiser, apoiar-me quando eu mais precisar, sem me julgar. sempre assim. sempre fantasiei.

tanto fantasiei que nunca imaginei que fosse pensar como ele, caio fernando, algum dia. fantasiar, quem sabe?, fazerem as palavras dele tanto sentido, pq, ô, zé, ando tão desorientado, já faz tempo. (…) mastigando a minha desorientação*.

tão desorientado, não procurando ninguém porque, agora agora, como outrora, não posso. porque sou seta no alvo, mas o alvo, na certa, não me espera.

*caio fernando em carta ao josé penido.