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e se eu fosse você?!

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sempre tive fama de boa memória, no que nunca acreditei.

meus brinquedos foram cedo deixados de lado. do futebol desisti assim que fiz meu primeiro gol-contra. dos patins demorei um tanto mais para desapegar tão rapidamente surgiram os calos à carne viva. e assim sucessivamente fui escapando da infância, porque queria mesmo era ser gente grande.

assim sucessivamente, fez-se a infância sempre meio sem graça/desinteressante, embora eu tivesse quase tudo que um menino da minha idade pudesse ter, embora a poesia estivesse em cada esquina e eu tivesse pressa: desprezando tudo, mas de modo que desprezar não me pertubasse a vivência de meus dias tampouco me fizesse superior quando desprezava inocentemente (fernandopessoalizei a coisa!).

aí, às vezes, como agora, me indago se toda essa vontade de ser visto não vinha do receio de que o eu aqui nunca fui entendido pelo que amiúde me obriguei a crer que fosse. eis o local que minha memória deveras falha, sabe? ora, quem sabe, minha imaginação aventureira?

mas ainda assim escolheria a infância de outrora… claro, se pudesse. kinda sad actually!

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seja lá o que a vida guarda pra mim…

(…)

Assim como falham as palavras quando queremos exprimir qualquer pensamento, assim falham os pensamentos quando queremos pensar qualquer realidade. mas, como a essência do pensamento não é ser dita, mas ser pensada, assim é a essência da realidade o existir, não o ser pensada. assim tudo o que existe, simplesmente existe. o resto é uma espécie de sono que temos, uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença. o espelho reflete certo; não erra porque não pensa. pensar é essencialmente errar. errar é essencialmente estar cego e surdo. estas verdades não são perfeitas porque são ditas, e antes de ditas, pensadas. (…)

Alberto Caeiro [1-10-1917]