Lembrei que assisti a uma palestra concedida pelo elenco da minissérie "A Pedra do Reino" sobre a mesma em João Pessoa, em meados do ano passado. Todo público lá presente, sem exceção alguma, exarava ser a adaptação da obra de Suassuna um fracasso no quesito audiência. A mídia, ou melhor, a crítica que se diz especializada contribuiu exageradamente para que essa idéia se proliferasse.
Durante muito tempo, mais ouvindo que falando, o diretor Fernando Carvalho calou os comentários idiotas afirmando ser "A Pedra" um fenômeno. O mais irônico é que ainda foi aplaudido, sinal de que uma elite intelectual não só da Paraíba, mas de Recife e do Rio Grande do Norte pelo menos soube reconhecer o quanto ridícula fora, desperdiçando saliva e desejando muito mais aparecer em detrimento de discorrer críticas contundentes. Sequer sabendo o que falava, é bom frisar, o que apenas refletia a lógica da aceleração tão cruel, mas tão cruel, por que passa o mundo. Jornalistas era, conforme entendimento meu naquelas horas, tão somente mais uma vítima dos meios de comunicação, ferramenta que lhe viabiliza o trabalho. Uma metalinguagem e tanto!
E a respeito do renomado diretor? Para ele, o sucesso da série de 5 capítulos simplesmente residiu no fato de o cinema estar bastante elitizado, encurralado nos "shoppings". Acho que nenhum crítico atentou pra isso, dada a seguinte conjuntura: está a maioria deles num mundo irreal proporcionado pelo dinheiro. Este que os possibilita enxergar e versar sobre o que provavelmente lhe interessa como, por exemplo, comentário do tipo "uma produção tão cara, grandiosa, e ínfima audiência: que desperdício! outra não vale a pena". Ironicamente, os filhos de críticos, numa comparação pertinente, tem dinheiro para pagar entrada e ainda comer pipoca. E os demais, principalmente os que moram longe do centro, onde geralmente os grandes redutos de compra se encontram, nem dinheiro de passagem possuem. A Pedra do Reino poderia ser viabilizada numa sala escura, gelada e em tela gigante, todavia optou o diretor por outro viés.
Pois bem, em que lugar almejo chegar com isso tudo? Simples: "O Caçador de Pipas", já o li duas vezes, tentando entender porque uma história cheia de clichês alcançou o patamar “best-seller”. Estou até começando a desconfiar daquilo que a mídia, de uma maneira ou outra, faz-nos aceitar e/ou de que as pessoas, por nítida influência daquela, gostam. Numa raciocínio singelo, duas premissas são plausíveis: 1) A propaganda vende; 2) Nós, pobres culturalmente, compramos tudo que nos é oferecido só para está na moda. Ou seja, nos dias que seguem, uma ausência de memória cultural se faz durante muito presente em função da efemeridade dos fatos, dos costumes. Em suma, o que hoje é, em breve, não é e tudo ao mesmo tempo não fixamos! Consequentemente, acumulamos e esbanjamos, muito ainda valores hedonistas de felicidade e liberdade sejam mascarados por uma ideologia que mais está para possessividade e provocação de batalhas inter-subjetivas. Portanto, inicialmente, somos originais, depois meras cópias, produtos imprescindíveis a manutenção do ciclo.
Em situação não muito diferente está o filme, que acabei de assistir e também não apreciei muito. Eu esperava que, pelo fato de achar que a estória não fosse lá os exageros que dela falam, o filme pudesse ser, no mínimo, caprichado. Claro, livro e filme de nome semelhante são mídias complementares, cada qual com seus méritos, porém distintas. No filme, por exemplo, todas as atuações carecem de entrega emocional a ponto de eu achar quase tudo que se passa naquele Afeganistão invadido por Russos na segunda metade do século XX inverídico. Tal impressão não me ocorreu no ato da leitura, em função de um melhor trato na descrição psicológica das personagens. Possivelmente, já quem não leu... Além de tratar a complexidade das relações humanas numa cidade fundamentada em fanatismo religioso e marcada fortemente pela misoginia e bastantes discriminações étnicas durante fortes reminiscências do pós Segunda Guerra, possivelmente a escolha por protagonistas com personalidades distintas e nada convencionais para os padrões atuais de narrações que misturam ficção e realidade é o ponto forte das duas ferramentas de entretenimento: um riquinho covarde (Amir, afegão puro, que descobre, ao mudar para os Estados Unidos, ser tão pouco tudo que tinha) e outro valente pobre, porém submisso ao mais nobre dos sentimentos - a amizade (Hassan, origem hazara, e de feições quase femininas; ele e o pai são empregados da família do primeiro).
A moral, dentre tantas, de "O caçador de Pipas" é que todos temos o direito de recomeçar, mesmo que antes tenhamos magoado quem tanto nos devotou amor e sentimentos bons alhures. Ah, e levando em consideração que o povo pode argumentar "nem só de Machado de Assis vive o homem", ou "existem grandes lições nas coisas insignificantes", meio vagos tais fundamentos para justificar êxitos literários de Khaled Hosseini, tanto quanto a direção de Mark Foster.
Abraço!
Parabéns ao FREVO, que faz 100 anos hoje!
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P.s: A frase mais comovente do filme, em ambos os instantes citados.
Durante muito tempo, mais ouvindo que falando, o diretor Fernando Carvalho calou os comentários idiotas afirmando ser "A Pedra" um fenômeno. O mais irônico é que ainda foi aplaudido, sinal de que uma elite intelectual não só da Paraíba, mas de Recife e do Rio Grande do Norte pelo menos soube reconhecer o quanto ridícula fora, desperdiçando saliva e desejando muito mais aparecer em detrimento de discorrer críticas contundentes. Sequer sabendo o que falava, é bom frisar, o que apenas refletia a lógica da aceleração tão cruel, mas tão cruel, por que passa o mundo. Jornalistas era, conforme entendimento meu naquelas horas, tão somente mais uma vítima dos meios de comunicação, ferramenta que lhe viabiliza o trabalho. Uma metalinguagem e tanto!
E a respeito do renomado diretor? Para ele, o sucesso da série de 5 capítulos simplesmente residiu no fato de o cinema estar bastante elitizado, encurralado nos "shoppings". Acho que nenhum crítico atentou pra isso, dada a seguinte conjuntura: está a maioria deles num mundo irreal proporcionado pelo dinheiro. Este que os possibilita enxergar e versar sobre o que provavelmente lhe interessa como, por exemplo, comentário do tipo "uma produção tão cara, grandiosa, e ínfima audiência: que desperdício! outra não vale a pena". Ironicamente, os filhos de críticos, numa comparação pertinente, tem dinheiro para pagar entrada e ainda comer pipoca. E os demais, principalmente os que moram longe do centro, onde geralmente os grandes redutos de compra se encontram, nem dinheiro de passagem possuem. A Pedra do Reino poderia ser viabilizada numa sala escura, gelada e em tela gigante, todavia optou o diretor por outro viés.
Pois bem, em que lugar almejo chegar com isso tudo? Simples: "O Caçador de Pipas", já o li duas vezes, tentando entender porque uma história cheia de clichês alcançou o patamar “best-seller”. Estou até começando a desconfiar daquilo que a mídia, de uma maneira ou outra, faz-nos aceitar e/ou de que as pessoas, por nítida influência daquela, gostam. Numa raciocínio singelo, duas premissas são plausíveis: 1) A propaganda vende; 2) Nós, pobres culturalmente, compramos tudo que nos é oferecido só para está na moda. Ou seja, nos dias que seguem, uma ausência de memória cultural se faz durante muito presente em função da efemeridade dos fatos, dos costumes. Em suma, o que hoje é, em breve, não é e tudo ao mesmo tempo não fixamos! Consequentemente, acumulamos e esbanjamos, muito ainda valores hedonistas de felicidade e liberdade sejam mascarados por uma ideologia que mais está para possessividade e provocação de batalhas inter-subjetivas. Portanto, inicialmente, somos originais, depois meras cópias, produtos imprescindíveis a manutenção do ciclo.
Em situação não muito diferente está o filme, que acabei de assistir e também não apreciei muito. Eu esperava que, pelo fato de achar que a estória não fosse lá os exageros que dela falam, o filme pudesse ser, no mínimo, caprichado. Claro, livro e filme de nome semelhante são mídias complementares, cada qual com seus méritos, porém distintas. No filme, por exemplo, todas as atuações carecem de entrega emocional a ponto de eu achar quase tudo que se passa naquele Afeganistão invadido por Russos na segunda metade do século XX inverídico. Tal impressão não me ocorreu no ato da leitura, em função de um melhor trato na descrição psicológica das personagens. Possivelmente, já quem não leu... Além de tratar a complexidade das relações humanas numa cidade fundamentada em fanatismo religioso e marcada fortemente pela misoginia e bastantes discriminações étnicas durante fortes reminiscências do pós Segunda Guerra, possivelmente a escolha por protagonistas com personalidades distintas e nada convencionais para os padrões atuais de narrações que misturam ficção e realidade é o ponto forte das duas ferramentas de entretenimento: um riquinho covarde (Amir, afegão puro, que descobre, ao mudar para os Estados Unidos, ser tão pouco tudo que tinha) e outro valente pobre, porém submisso ao mais nobre dos sentimentos - a amizade (Hassan, origem hazara, e de feições quase femininas; ele e o pai são empregados da família do primeiro).
A moral, dentre tantas, de "O caçador de Pipas" é que todos temos o direito de recomeçar, mesmo que antes tenhamos magoado quem tanto nos devotou amor e sentimentos bons alhures. Ah, e levando em consideração que o povo pode argumentar "nem só de Machado de Assis vive o homem", ou "existem grandes lições nas coisas insignificantes", meio vagos tais fundamentos para justificar êxitos literários de Khaled Hosseini, tanto quanto a direção de Mark Foster.
Abraço!
Parabéns ao FREVO, que faz 100 anos hoje!
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P.s: A frase mais comovente do filme, em ambos os instantes citados.
2 comentários:
Boa noite Matheus, tudo certo? Seu post está maravilhoso, vc escreve muito bem! Lembrei muito de uma frase de Adorno que foi um filósofo do século passado: Somos seres humanos por imitação, por ver outros homens! algo mais ou menos assim! Eu não li este livro por ter já claro que o que agrada muito gente é suspeito. Depois de relutar um poukinho fui ver o filme: A minha conclusão foi um pouco diferente da sua! Eu saí até um pouco esperançoso. Porque achei que apesar dos clichês o filme consegue aprofundar um pouco questões atuais e que exigem certas habilidades intelectuais. Mas é sempre bom analisar as coisas por prismas opostos. Abraços!
Maninho que eu quero taaaaaaaaanto bem, saudades de vc, estou menos na net por diversos motivos, um deles é o tal Mestrado, to me acabando de estudar. mas tb voltei a trabalhar na terça. ô amigo, pense no cansaço... mas falando no post, não li O caçador de pipas, mto menos vi o filme e nem estou com vontade, essa questão de best seller é mto relativa, será que é best mesmo, e pq porra é best, só pq vende??? conheço cada coisa que vende que não é good, que dirá best. paulo coelho, augusto cury e ci LTDA. não vi A pedra do reino por pura falta de tempo messssmo, ás voltas com minha monografia, mas foi um fracasso de audiência, o povo que reclama tanto de má qualidade na TV é o mesmo que não discerne o que é bom e o que é ruim. então na dúvida fica com o ruim. farei um esforço para ver Queridos amigos - esse nome me lembra Caros amigos, aquela revista, sabe? será que é intencional??? querido, saudade mesmo de tu, e me manda notícias. eu to com sono, com preguiça e com sede. eita vida mais ou menos, bem que poderia ficar best. rsrs
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