este texto vai ser tão redação de escola que me lembrei de uma brincadeirinha embaraçosa, last week, do meu irmão mais novo em relação a um primo na puberdade:
‘vitor vai chegar na escola e vai fazer uma redação dizendo que as férias foram ótimas e que uma menina pegou na mão dele’.
2011 foi deixando de ser só começo de ano para abrir-se a mim em reencontros com familiares, amigos, ida às prévias de carnaval em Olinda, ao submundo do sexo e do tecno-brega na Av. Boa Vista (centro do Recife), depois Mayer Hawthorne, Janelle Monáe e Amy Winehouse no Summer Soul Festival e show de Bethânia semanas depois em João Pessoa, etc e tal, e no melhor das férias, Praia Azul, litoral sul paraibano.
e, assim, eu como todo amante de sol, brisa fresca e mar, novamente fiz como quem parece rumar às praias de veraneio, sem muita movimentação, quase desertas, perseguindo os iguais anseios, dentre eles deixar as pressões da cidade na própria cidade e seguir em busca de tranquilidade. ou ao menos, estar mais próximo do que se é ou imagina ser na verdade. porque, na cidade, é um tanto difícil perceber um outro lado que não o ruim, senão o pior, das pessoas. ora, o pior de nós mesmos, vai ver…
e com o mar rente a mim, das muitas coisas que se faz em cidade praiana, a melhor mesmo é parar, sentar na areia, botar uma boa música pra tocar (e Mayer Hawthorne foi a trilha sonora do verão!) e fixar o olhar no nada e, deste, ir despropositadamente preparando o terreno para que possa surgir tudo.
e muitas vezes apareceram o menino que se melava todo de areia e corria pra abraçar o mar; o pai que se fazia de bobo ao jogar futebol com os filhos, deixando-os ganhar; a avó que dizia aos berros para um pequenino Henrique, juntamente ao seu irmão gêmeo, tomarem cuidado e não molharem a senhora sentada na areia; os guarda-sóis coloridos que voavam ao tilintar feroz dos ventos; as pipas que riscavam sonhos de Ícaro no céu; o meu primo de 6 anos que falou docemente ser bonito os pássaros rasgarem as nuves e querer aquilo com tamanha vontade a ponto de me fazer chorar ali mesmo sem querer. e um sentido bucólico, selvagemente-melancólico, porém alegre ia se fazendo tão longe perseguia meu olhar maroto. olhos nunca antes de poeta, mas que o mar os fazia poetas.
e junto toda uma vontade de nunca mais sair dali. não por necessariamente medo, sabe?! tampouco artimanha para, então, sabotar o passar de 2011 que me aguarda nervoso. os sonhos de todos nós ali no sudeste da Paraíba eram os mesmos, mas a felicidade e a paz eram só minhas, sorrateira, arrebatadora e clandestinamente àquelas horas tão à esmo que passava sentado na areia ou caminhando sem rumo certo ou vontade de chegar, assim como, acredito, ter sido ímpar a felicidade de cada um para si próprio ali. todos, enfim, privilegiados, de alguma maneira, por podido sentir isso cada qual na sua.
chorei, pois, de emoção a minha felicidade. e fui chorando cada vez mais desse vontade, muitas vezes a olhar também contente a felicidade sincera de muitos que por ali passavam, bordando areias, desfilando sonhos de reconciliarem-se consigo mesmos, com luz de candeia pra nunca se apagar, não fosse, raros momentos nesses últimos dias, a ressaca das ondas dissimulada e cruel a quebrar na areia ou nas pedras, quem sabe?, arrombando nossos desejos mais vãos até e, como num jato de água fria, trazendo a realidade por puro despeito de não-poesia.
e, claro, minhas férias, assim como as de meu primo de 13 anos Vitor, foram/estão sendo realmente ótimas. não foram só de chô-rô-rô, não. tem até gente insistindo na mesma piada de que preto não fica bronzeado e eu rindo do mesmo jeito (até eu tô me achando pretão, gente. e lindão também. desculpaê!).
entretanto, piadas de lado, não sei qual menina agarrou a mão de Vitor, mas sei que uma outra chamada coragem e toda pintada de azul, tão azul esperança segurou a minha. e é dessa forma que creio estar um tantinho mais pronto para abrir portas, ainda que seja necessário exaurir-me em trabalhar aquela parte de mim, que, lá no fundo, bem fundão, ainda teima em dizer que tenho medo, não poderei, não conseguirei e de que portas se fecharão diante de meu nariz.
e como a vida é de portas que ora se abrem, ora se fecham, sei que o medo é dos mais bobos. das tantas escolhas, uma delas é poder deitar a cabeça no travesseiro todos os dias e saber que amanhã, se não consegui hoje, poderei acordar e tentar de novo. porque, bixo, se cheguei até aqui, não foi necessariamente por ter acertado todas as vezes, mas por ter burlado as placas de alerta, aberto as portas erradas ou, num ato de loucura, ter pulado as janelas, quiçá. cheguei, acima de tudo, por ter acreditado que janeiros estão aí sempre pra isso, por ser exatamente início e ao mesmo tempo já recomeçar.
no mais, acabei de abraçar fevereiro com todos os braços de um polvo e uma fome inigualável de tubarão.
abraço!
1 comentários:
Mais do que ser crítico sobre o seu post, gostaria de ser crítico sobre seu blog, na verdade sobre o título do seu blog.E para ser mais específico ainda: " sertão é aqui dentro...".
Como pode ser seertão se sua "terra" aparenta ser mais um oásis? Como podem ser originadas do sertão palavras tão férteis, tão autocríticas, tão cheias de si?
Não acredito que aí dentro seja sertão de jeito nem maneira - e olha que de sertão eu entendo. Emfim meu caro (que por sinal não sei nem o nome), simplesmente ao procurar a frase “estamos todos presos do lado de fora de um abraço…” encontrei seu blog e já virei fã.
Sua autocrítica é invejável, seu modo de ver as coisas também. Não precisa nem lhe conhecer pra saber o quão interessante deve ser conviver ao seu lado.
Ficarei esperando ansiosamente suas próximas postagens, seus próximos autoretratos.
Robson, o Valentim.
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