1

o sempre avesso do outro.

o que me despertou foi o zurro de um jumento na praça do mercado. o jumento mexeu comigo e, não sei por que estranho motivo simpatizei com ele; e repentinamente tudo se tornou claro na minha cabeça.

- dostoiévski, em ‘O Idiota’ -

de dia, na companhia dos meus amigos, na sala de aula, na minha relação com minha família, nas festas, sou amável, dado demais, brincalhão, de uma gargalhada ímpar, sem preocupações e sempre tenho uma palavra amiga e acalentadora.

tudo a ponto de fazer com que as pessoas, de um modo geral, não me vejam como um rapaz perdido em cismas quando sozinho, tímido, inseguro, às avessas com a madrugada de muitos pensamentos, insone e pertubada.

e aí, frequentemente, tenho me perguntado que papel têm os rótulos nas nossas vidas. dizem que sou pra frente, sem vergonha na cara, esse ser todo desinibido. acredito?! não sei até que ponto.

ser absolutamente isso ou aquilo traz perigos muitos como, por exemplo, o fato de nos arraigarmos a urgência de corresponder a certos padrões de comportamentos que não desejamos necessariamente, mas que por eles optamos e nos orientamos justamente porque esperam que assim ajamos. e, talvez, por isso seja eu ou você um louco, ora um santo e o sempre avesso do outro, vagando periclitantemente entre a simpatia e a estranheza, a graça e a desgraça perante o olhar alheio.

no entanto, desempenhar papéis requer não só cuidado, mas coragem acima de tudo. é preciso desafiar as zonas de conforto. a ideia de perfeição que alimentam por nós mesmos e sobre nós mesmos é tão às vezes demasiado ruim que destruí-la, por ação ou omissão, seria concomitantemente não só nos atingir mas ao outro em escala não tão boa na mesma proporção. digitalizar0001

pois, uma vez movidos pela paixão, completamente cegos, estaremos propensos a justificar essa esperança justamente onde não há. e o resultado: a desilusão de descobrirmos nada do que achamos que erámos tão somente por um ataque de vaidade desesperada.

em um mundo que constantemente muda debaixo da gente, disseram-me certa feita que a única coisa da qual sabemos com certeza é o que expressa nossos sentimentos. razão porque devemos dar vazão ao amor que temos, ao medo do qual nos escondemos, à dor de que nos afastamos. as recompensas seriam paz na cabeça no coração.

mas, que paz é essa?! e se eu disser que não sou tão pleno quanto pareço?! o desejo cala, raramente ignoro a verdade, mas, de vez em quando, bate aquela vontade medonha de querer ser criança novamente. não aguento mais!

abraço!*

1 comentários:

Robson, o Valentim disse...

Moska uma vez cantou:
"eu vim do avesso
reverso do que é aceito
ninguém sabe tudo
nada é perfeito
"

Avesso do outro, ou o avesso de "nós" mesmos?

Mas enfim, distribuem pacotes prontos por aí... cabe a nós querer seguir esses kits ou não.

Abraço