o desejo é um tempo parado. é quando se trocam as datas dos bichos e das flores. é quando aumenta a rachadura da velha parede. é quando se vira a folha, a folha da história. é quando se pinta um fio branco na cabeleira preta. é quando se endurece o rastro de sorriso no canto dos olhos…
- meu mundo - otto part. lirinha -
é assim. todos os dias. as madrugadas abrem-se, todas dengosas e impunes, ao sol nas manhãs de dias ainda mais esfomeados pelo sono de muitas gentes. tantos planos, tantos desejos de tudo dar certo que a esperança faz parecer realmente que dará certo. e eu me empolgo, cochilo, guturo palavras inconscientes e aí já é hora. os olhos insinuam um desabrochar tímido. vem o amargo na boca travando a mandíbula. o coração arrebata e logo depois endurece. hora de pensar, fazer listas e mais listas nas portas dos guarda-roupas, em lembretes apregoados nos espelhos e geladeiras, em papéis picados de vontades prementes que, muito displicentemente, são deixados para trás, quando não tudo fria, calculista e premeditadamente, é digitado numa página de uma rede social dessas quaisquer que só servem para adiar, adiar e adiar sonhos tais ainda mais. toda fonte é sagrada? toda água é doce? toda alma é pura? toda hora é bela? ou é senão todo um sistema de simulação inventado (…) para ocultar a desordem…? e, assim, o dia tão veloz passa, escapulindo, com o vento, do meu alcance. as mãos pegam fogo e eu, já sem as digitais que me são peculiares, prostrado ao por-do-sol, quem sou mesmo?! a existência como uma ninharia. fica um vão…
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