e a chuva não tem dado uma trégua sequer. às vezes, o céu de um zeus furioso sabe-se nunca por que motivo (parece) vai desabar sem dó e piedade. é ira, é prenúncio de dilúvio. outras é só garoa, um chuvisco fraco, chegando macio, devagarinho como o que cai agora…
começa sempre com uma pressão danada aqui embaixo que faz forçosamente gotas malemolentes subirem às extremidades superiors vagarosamente. e numa cadência só, os pingos quase invisíveis vão juntando-se a poeiras de vastos horizontes com a ajuda do sopro dos ventos.
ficam mais fortes, pesados, ceifam as nuvens, caem por terra e, em harmonia e felicidade, balançam as árvores, matam a fome dos jardins, rosas que desabrocham em quimera, charme e beleza. fluxo este que se refaz a fecundar ou amadurecer a vida.
e o frio da rua invade nossas casas, uma preguiça se faz presente e o cobertor parece a melhor companhia quando o café não faz questão de invadir nossas narinas e anunciar uma vontade imensa e desmedida de adiar o tempo.
momento natural e mágico de felicidade tal que pode ser arrebatado pelo ligeiro descontentamento de percebermos que os sonhos cândidos dos primeiros anos da tenra e leda existência ao desenhar um sol no chão molhado nada adiantaram senão para, sorrateiramente, fazerem rirmos hoje saudosos do fato de que, quiçá, tivéssemos sido tolos o suficiente de crer que isso um dia poderia acontecer.
homens e mulheres abrem seus guarda-roupas, libertam os casacos dos cheiros impregnados dos matadores de baratas, vestem suas capas e põem abertos os guarda-chuvas e sombrinhas ou desagasalhados, infelizemente, lamentam a miséria junto aos ratos saltitantes nas ruas…
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